20 de agosto de 2010

Aprenda a ser Criativo

A criatividade se tornou a qualidade mais desejada no mercado de trabalho. O que fazer para aumentar a sua.

Revista Época - por Francine Lima, Nelito Fernandes e Anna Carolina Lementy

Lembre-se da última boa ideia que lhe ocorreu, Ela pareceu vir do nada, du­rante o banho? Você deixou que ela escorresse pelo ralo e não pensou mais nela? Ou anotou, contou aos amigos e imaginou como aplicá-Ia em sua vida? Se você é alguém que tem ideias ori­ginais, do tipo que assustam um pouco sua família, e gosta de tentar colocá-Ias em prática, chegou sua hora: esses pensamentos borbulhando em sua cacho­Ia podem valer um emprego novo, um aumento ou mais negócios. Se você não se acha dos mais criativos, ânimo. Nas próximas páginas, vamos lhe dar boas razões para acender as lâmpadas aí dentro e mostrar como fazer isso. O motivo vem de pesquisas recentes feitas com os maiores contratadores do mundo.

Uma dessas pesquisas, feita pela prestadora de ser­viços tecnológicos IBM com os principais executivos de 1.500 empresas, de vários países, revelou que eles consideram a criatividade o fator crucial para o su­cesso atualmente. Para que suas empresas consigam driblar as dificuldades e aproveitar as oportunidades, precisam de gente com ideias novas. Outra pesquisa, feita pela consultoria de administração de pessoal Korn/Ferry, com 365 dirigentes de grandes empresas só na América Latina, chegou à mesma conclusão: a habilidade de criar o novo e o diferente é a mais desejada por mais da metade dos dirigentes (56%).

Ficou à frente de capacidades fundamentais, como saber tomar decisões complexas e conduzir equipes rumo a resultados. A essa altura, seria razoável per­guntar por que as companhias simplesmente não treinam seus funcionários e fornecedores para ser mais criativos ou não saem por aí oferecendo aos criativos mais dinheiro. A resposta: elas tentam, mas chegaram à conclusão de que treinar ou encontrar gente criativa não é tão simples.

Os dirigentes entrevistados pela Korn/Ferry con­sideram a criatividade a habilidade mais rara de encontrar e também a mais dura de ensinar dentro dos ambientes de trabalho tradicionais (embora seja possível aumentar essa capacidade com o ambiente e os métodos certos, como veremos adiante). Além disso, há indícios de que as pessoas altamente criativas estejam ficando mais raras. Uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou que, ao contrário dos quocientes populacionais de inteligência (Q.I.), que crescem a cada geração, a criatividade vem caindo. O fenômeno foi observado pelo pesquisador Kyung Hee Kim, do College of William & Mary (uma im­portante universidade pública nos EUA). Ele avaliou testes de criatividade feitos desde 1958 e aplicou um deles há dois meses a 300 mil americanos, adultos e crianças. Segundo o cientista, as notas vinham su­bindo até 1990. De lá para cá caíram, especialmente entre crianças pequenas.

Se você acha que já tem o perfil ou quer passar a se encaixar nele, ainda há um ponto que precisa saber antes de começar a ajeitar o currículo. "Criar", tanto para os altos executivos entrevistados quanto para os cientistas que estudam o funcionamento do cérebro, é um conceito mais profundo do que "ter ideias diferentes". Está mais para "ter ideias diferentes e utilizáveis, e ter o impulso de realizá-Ias". "Criativo", por essa visão, não é aquele sujeito malu­quinho, cheio de pensamentos vibrantes e caóticos, mas pouco prático. O verdadeiro criativo trabalha. Ele pensa em como im­plementar as ideias e conhece os limites do mundo real, como escassez de material, dinheiro ou tempo - mesmo que seja para chutá-los para o alto.

Outras qualidades profissionais seguem em alta: ética, comunicação fluida, capa­cidade de análise, poder de inspirar equi­pes. Por que a criatividade se tornou mais desejada que todas? Nos países ricos, há o cenário do momento: uma crise que amea­ça destruir as empresas menos espertas e pouco flexíveis. Pensando no planeta, in­cluindo o Brasil, sabemos que o mundo fi­cou, a um só tempo, menos previsível para quem vende e mais generoso para quem compra. Há abundância de oferta de produtos e serviços) que tendem a se tornar mais baratos. Mais empresas competem com maior eficiência por consumidores mais exigentes. As companhias precisam cortar custos e oferecer novidades de forma acelerada. O jeito velho de trabalhar não produz novidades na velocidade desejada. Vai se destacar quem conseguir criar mais e criar bem.

Um exemplo é a arquiteta Sarah Torqua­to, mineira de 25 anos. Em quatro anos, ela passou de estagiária a coordenadora de lançamentos na construtora MRV. Desde que começou a estagiar, Sarah depositou no banco de ideias da empresa 40 sugestões de como substituir materiais de construção por alternativas mais baratas, das quais 15 foram adotadas. Ninguém contribuiu tan­to. Suas recompensas pelas ideias chegaram a R$ 40 mil, dinheiro com que deu entrada num apartamento aos 24 anos. Como uma pessoa tão jovem pode ser tão produtiva? Sarah diz que muitas vezes acordava de madrugada com uma inspiração, anotava a ideia num caderninho e voltava a dormir . "Fico ligada em tudo, o tempo todo", diz. Alguns amigos a criticaram pela quantidade de sugestões. "Muita gente di­zia: pare de dar ideias, a MRV já está rica." A empresa diz ter distribuído R$ 1 milhão em prêmios para os funcionários por ideias que lhe economizaram R$ 80 milhões. Há ingredientes parecidos nas histórias do engenheiro químico Marcos Aurélio De­tilio, que ofereceu sugestões de economia de energia aos clientes da empresa de en­genharia e tecnologia Chemtech, em que trabalha, e conseguiu três promoções em quatro anos; ou de Arnaldo Gunzi, de 31 anos, que adaptou modelos matemáticos para melhorar o deslocamento de técnicos de telefonia no Recife e ganhou a opor­tunidade de trabalhar na Austrália; ou da chefe de cozinha Carole Crema, de 37 anos, uma das responsáveis por iniciar no Brasil a moda dos cup cakes, os bolinhos confeitados feitos em formas individuais. Criatividade é essa capacidade de ver pos­sibilidades que os outros não enxergam e contribuir com algo original e útil.

Embora prezem tanto a criatividade, a maioria das empresas não a apoia. "Mui­tas, infelizmente, cerceiam a criatividade", diz Marco Antônio Lampoglia, diretor da consultaria Active Educação e Desenvolvi­mento Humano. A estratégia mais usada é a dos brainstormings, reuniões em que a equipe joga ideias à vontade. Em geral são mal conduzidos e não trazem bons re­sultados. Segundo Sofia Esteves, psicóloga e presidente da DMRH, consultoria de recursos humanos, o profissional criativo tende a se afastar de ambientes conservado­res. Ele quer mais participação em vez de só cumprir ordens. Ainda que a empresa não esteja de todo preparada para o profissional criativo, ele tem mais chances de brilhar.

Há dois movimentos cruciais para o modo de pensar criativo: a divergência - ampliar perspectivas, fazer associações diferentes, recorrer a conceitos novos - e a convergência - o foco nas aplicações práti­cas das novidades. Os menos criativos recorrem a respostas conhecidas. Os mais criativos ousam com respostas alternativas, nem sempre bem­ vistas. A mente criativa enxerga similari­dades onde os outros só veem diferença. A boa notícia é que é possível mudar nosso padrão de pensamento. Algumas formas de soltar a criatividade: buscar analogias, dei­xar que a mente se perca em pensamentos e procurar novas experiências.

Estudar sempre ajuda, pois amplia o repertório de informações que você pode recombinar. "A criatividade tem menos a ver com um dom e mais com a forma como você absorve as informações e as conecta", diz o publicitário formado em história Flá­vio Cordeiro, sócio-proprietário da Binder Visão Estratégica, no Rio de Janeiro. Quem observa um criativo em atividade fica ten­tado a tratar essa habilidade genericamente como inteligência. Mas há diferenças.

O teste de Q.I., Quociente Intelectual, mede habilidades mentais ligadas ao ra­ciocínio lógico, à habilidade com cálculos e à visão espacial. É pouco útil para medir a criatividade. Uma pessoa com Q.I. acima de 100 (a média) pode ser espertíssima e não ser muito criativa. No livro Fora de série ­ - Outliers (editora Sextante, 2008), Malcolm Gladwell relata que Poole e Florance, dois estudantes do ensino médio na Inglaterra, ambos com alto Q.I., tiveram resultados muito diferentes num teste de divergência, um dos mais comumente usados para me­dir criatividade. O teste consistia em listar a maior quantidade de usos que imaginas­sem para um tijolo. Poole descreveu cinco funções, algumas bem-humoradas, como "para segurar o cobertor no lugar, coloque um tijolo em cada canto da cama" Floren­ce ficou com "construir coisas" e "lançar". Demonstrou capacidade de dar respostas rápidas, mas convencionais. Em situações complexas, sem respostas conhecidas, gen­te como Poole tende a levar vantagem.

Isso não significa que criatividade e raciocínio lógico caminhem separados. "Quando o Q.I. é alto, normalmente tam­bém é alto o quociente de criatividade", diz a Ph.D. em psicopatologia experimental Shelley Carson, da Universidade Harvard. Especializada na relação entre criatividade e saúde mental, ela ajudou a formular o teste mais difundido hoje para medir criativida­de entre profissionais de alto desempenho, como cientistas e artistas premiados.

Também varia de pessoa para pessoa o jeito de criar. Um modelo de avaliação cria­do nos anos 90 por pesquisadores liderados pela psicóloga Ruth Richards, da Universi­dade Saybrook, nos Estados Unidos, atribui notas de 0 a 5 à atividade criativa no traba­lho. A nota máxima vai para o inventor que tem ótimas ideias e não sossega enquanto não as realiza. O nível um pouco abaixo, há os que têm muitas ideias, mas menos energia para implantá-Ias, e há os que têm poucas ideias, mas muita disposição e ca­pacidade de persegui-las.

O potencial criativo também pode ser favorecido pelo ambiente. Às vezes é preci­so mudar de ares, como fez Renato Ratier, filho de fazendeiros de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. A família de Ratier imaginava que ele trabalharia no agronegó­cio. Ele chegou a cursar Zootecnia, Direito e Administração, mas não se sentia realizado. Numa viagem à Califórnia, encantou-se com a riqueza cultural e decidiu estudar design lá. Na volta, abriu vários negócios, entre eles uma casa noturna em que tocava música eletrônica em vez de sertaneja. Ratier hoje se divide entre Campo Grande (onde moram sua mulher e os filhos) e São Paulo, para onde levou a D-Edge, conside­rada um dos clubes noturnos mais badala­dos do mundo. Ratier poderia ter seguido no agronegócio, mas evitou um bloqueio clássico à originalidade, que é a tentativa de se encaixar no que é socialmente adequado. "Nós censuramos nossos pensamentos. Os "maus pensamentos" nem sequer vêm para a mente consciente", diz Shelley Carson. Com essa censura, deixamos de acessar ideias originais. Para reverter esse proces­so danoso, ela sugere "desligar" algumas partes censoras do cérebro. Numa pesquisa de 2004, Shelley mostrou que existe uma correlação forte entre alto Q.I. (20% a 30% acima da média), baixa inibição latente (fil­tragem de estímulos, saber escolher quais informações devemos levar em conta ou ignorar) e alta criatividade.

Essa pesquisa ajuda a entender uma des­coberta recente. Em maio, pesquisadores da Universidade Karolinska, na Suécia, encon­traram semelhanças no funcionamento do cerebro de pessoas criativas e no de pessoas esquizofrênicas ou que tenham histórico de esquizofrenia na família. Uma das ca­racterísticas do esquizofrênico é a falta de inibição latente - ele tem dificuldade de distinguir entre o que pensa e o que ouve e costuma fazer associações bizarras entre assuntos que a maioria não relaciona.

No livro Seu cérebro criativo, com lança­mento previsto no Brasil para 2011, Shelley descreve sete estados cerebrais que, segun­do ela, favorecem pensamentos originais. Entre eles estão o estado de conexão (um tipo de "atenção desfocada" após o estudo de temas complexos, que facilita conectar conceitos díspares), o de visualização (que aproveita imagens, metáforas e pensamento não verbal para identificar padrões) e o de fluxo (em que o pensamento avança numa tarefa criativa, sem interrupção, como um músico improvisando). "Novas descobertas da ciência sugerem que, com treinamento, podemos manipular a ativação de padrões cerebrais e formar novas conexões", diz.

A ciência do cérebro tem evoluído muito desde que a tecnologia permitiu monitorar nossa atividade mental. Cientistas da Rede de Pesquisa da Mente, em Albuquerque, Novo México, nos EUA, estão mapeando o cérebro para saber que impulsos bioquí­micos e reações físicas ocorrem durante ati­vidades criativas. O estudo, com 65 pessoas até o momento, sugere que a criatividade perfaz caminhos tortuosos. "Quando  se trata da inteligência, o cérebro parece uma rodovia que nos leva do ponto A ao
ponto B", diz Rex Lung, professor assisten­te do departamento de neurocirurgia da Rede. "Nas regiões do cérebro relaciona­das à criatividade, parece haver várias ro­tas alternativas com desvios interessantes e retornos." Já se sabe que sonhar acordado regularmente facilita o processo criativo para todo mundo.

O criativo deixa a mente viajar com o mínimo possível de censura, até que várias ideias boas tenham surgido, para só então verificar sua viabilidade. "Para a criativi­dade, você precisa que sua mente divague", afirma Lonathan Schooler, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara. "Mas tam­bém precisa ser capaz de perceber que está divagando e capturar a ideia quando ela aparece. O criativo passa do pensamento divergente para o convergente, liberta-se para depois se enquadrar." Isso é completamente diferente de ser espontâneo, ama­lucado ou relapso. "Criatividade sem disci­plina é um barco sem leme", diz o escritor Paulo Coelho, que capturou milhões de fãs no mundo com sua mistura de autoajuda e misticismo. "O vento é a criatividade. Você vai manejando a vela." Além de dedicação, diz o escritor, criar também depende de uma disposição para o risco e para se expor à rejeição. "Você tem de sair de sua zona de conforto. Ser criativo não significa que você vai ser bem-sucedido. O criativo é criticado porque ele faz diferente, e muitas vezes é ridicularizado", diz Coelho.

A coragem de abraçar o ridículo pode ser uma arma criativa. Naturalmente de­sastrada, Daniella Giusti Adnet vivia fazendo troça de si mesma diante da família. Tornou-se a humorista Daní Calabresa. As risadas que ouvia inspiraram o desejo de se profissionalizar. Mas até criar com desen­voltura diante da plateia, em shows ao vivo latadas e na MTV, ela passou muito tempo sentada, escrevendo textos e pensando em personagens. "Hoje, chego ao palco, jogo uns assuntos e vou enlouquecendo com a plateia. Essa é a parte mais gostosa: arris­car sem medo", diz. Expor-se e improvisar num palco não é para quem se sente preso às convenções. "Muitas mulheres não têm coragem de largar a vaidade e se expor ao ridículo, coisa que eu adoro fazer."

Não é só nos palcos (ou nas empresas) que a criatividade ajuda a ter sucesso. Sem ela, a espécie humana não teria domina­do a linguagem - a capacidade de criar e manipular símbolos. Nesse sentido, não existe ser humano que não seja criativo. Mas, dados os desafios da vida moderna - relacionar-se com pessoas muito diferen­tes entre si, deparar com problemas ines­perados na educação dos filhos, seduzir a pessoa amada -, é natural que o prêmio aos mais criativos seja maior. Como afirma James Kaufman, diretor do Instituto de Pesquisa do Aprendizado na Universida­de do Estado da Califórnia: "Os criativos tendem a ser mais felizes".

Como ser mais criativo

Ter ideias e aplicá-Ias exige doses combinadas de talento, esforço, hábito e método. Tudo isso pode ser treinado e melhorado:

- Experimente outros pontos de vista
Ao imaginar vários usos para um tijolo, pense como se fosse outra pessoa: um escultor, um pedreiro, um arruaceiro, um pintor, um jardineiro. O criativo abandona preconceitos e busca novos ângulos

- Busque e transponha
Gutenberg inventou a prensa gráfica depois de conhecer a prensa de uvas numa vinícola. Às vezes, a soluçâo (mesmo parcial) para um problema já existe, só precisa ser adaptada 

-  Procure analogias
Leonardo da Vinci teve a inspiração do helicóptero ao observar pássaros. Ele percebeu que o pássaro jogava o ar para baixo, mas usou o conceito num projeto completamente diferente, sem asas.

-  Abrace a originalidade
Buscar analogias ou transformar conceitos não significa imitar. Imitações impõem limites. Ao criar, pense em sua experiência, seu ponto de vista e em como isso pode tornar sua ideia única.

- Aproxime-se de pessoas criativas
Mentes livre-pensantes estimulam-se mutuamente, compartilham pensamentos e deixam-se umas às outras confortáveis para expor ideias ousadas. É mais fácil ter boas ideias num ambiente já criativo.

- Use duas ferramentas: foco e divagação
O criativo costuma, primeiro, estudar o desafio a enfrentar. Depois, relaxa e divaga - o cérebro continuará trabalhando sozinho. A boa resposta pode vir depois, no banho, ao volante, até em sonhos.

- Capture ideias
Quando a mente viaja, os pensamentos criativos borbulham. Para criar, deve-se captura-los antes que escapem. Registre e discuta as ideias que surgem, mesmo que não pareçam maduras ainda.

- Trabalhe duro
Ser criativo não é só ter muitas ideias nem ter ideias pouco práticas. Ao persistir, correr risco e tirar a ideia do plano imaginário, ela mostra seus defeitos - e isso enriquece as próximas ideias.

Você é mais ou menos criativo?


Gente "sem criatividade" é algo que não existe - mas alguns de nós criam mais e com maior facilidade que outros. O teste abaixo mostra como você usa essa capacidade.

- Como Fazer o teste
Leia cada frase e depois marque a coluna que melhor indica como a descrição combina com você. Descreva-se como é agora, e não como gostaria de ser no futuro ou como gostaria de ser visto pelos outros. Pode ser útil comparar-se com conhecidos do mesmo sexo, da mesma faixa etária e do mesmo grupo social.

Não tem nada a ver comigo - 1 ponto Tem pouco a ver comigo - 2 pontos Não me descreve bem nem mal - 3 pontos Tem bastante a ver comigo - 4 pontos Descreve muito bem como sou - 5 pontos
Divago regularmente, em momentos variados do dia e lugares diversos
Quando tenho ideias absurdas, volto a pensar nelas outras vezes
Costumo imaginar cheiros, sons, sentimentos e sensações
Faço coisas que os outros acham estranhas e inesperadas
Sei como funcionam as pessoas, sistemas e coisas a meu redor
Gosto de apreciar as ideias alheias e de discutir as minhas
Gosto de ler textos, ver filmes e ouvir músicas considerados difíceis de apreciar
Fico empolgado com projetos que contrariam o senso comum
Quando tento algo novo e erro, insisto numa outra solução nova
Já passei a fazer algo de um jeito novo e melhor, embora o jeito velho funcionasse

Resultado:


- 10 a 20 pontos. Atualmente, você usa pouco a crlatlvldade. Leia nesta reportagem como treinar essa habilidade.

- 20 a 30 pontos. Você está menos criativo que a média. Tente entender o motivo e estimule seu lado criativo.

- 30 a 40 pontos.
Você está mais crlatlvo que a média. Mas lembre-se: criatividade precisa ser exercitada.

- 40 a 50 pontos
. Considere-se muno criativo. Mas confira se pode aumentar essa habilidade e aplicá­-Ia do melhor jeito possível.

Como nascem as ideias criativas


Pensamentos originais surgem quando o cérebro combina conceitos que, em princípio, não estavam relacionados. Esses conceitos podem estar na memória ou chegar com estímulos externos, por meio dos sentidos.

-  Em uma pessoa saudável
O processo criativo começa no lobos temporais, regiões que ajudam a "administrar" a memória. Os conceitos, peças que vão formar as ideias, são "enviados" ao lobo frontal. Mas vários mecanismos de filtragem controlam o fluxo de informação. Só passa o que importa.

- Distúrbios mentais
Doenças como a esquizofrenia podem atrapalhar o funcionamento dos filtros e sobrecarregar o lobo frontal. O excesso de conceitos irrelevantes que passam pelos filtros pode até gerar ideias muito criativas, mas prejudica o raciocínio.

- A ideia brilhante
Os conceitos que passam pelos filtros se combinam em novas ideias nos lobos frontais, regiões fundamentais para o raciocínio e que colaboram com a memória de curto prazo ("de trabalho"). Pesquisas mostram que em pessoas criativas esse processo de "montagem" é mais eficiente.

- Informação externa
Conceitos que chegam ao cérebro por meio dos sentidos (por exemplo, na degustação de um prato ou na leitura de uma revista) se combinam com os que vêm da memória de longo prazo e ajudam a gerar ideias.

- Ajuda do hemisfério esquerdo
Nas pessoas mais criativas, estruturas do hemisfério esquerdo do cérebro contribuem com o processo. Elas identificam conexões entre conceitos que não haviam sido percebidas antes. O processo criativo não ocorre, portanto, de uma única maneira. Várias regiões do cérebro participam da produção de uma nova ideia.

16 de agosto de 2010

Universidades no futuro

Por Fabio Reynol - http://www.agencia.fapesp.br/materia/12623/universidades-no-futuro.htm

Agência FAPESP – Programas de cooperação com outros países serão mais frequentes. Boa parte dos cursos será oferecida a distância. Alunos de graduação terão formação cada vez mais interdisciplinar.

Essas são algumas das tendências que deverão formar o perfil da universidade na década de 2020, segundo Julio Cezar Durigan, vice-reitor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que coordenou o 1º Ciclo de Debates "A universidade pública brasileira no decorrer do próximo decênio" , realizado nesta quarta-feira (11/8) no campus da Barra Funda, na capital paulista.

"O evento foi extremamente produtivo e cumpriu o objetivo de trazer visões de especialistas de outras instituições para contribuir com o debate", disse Durigan, que preside a Comissão Permanente de Gestão do Plano de Desenvolvimento Institucional da Unesp, à Agência FAPESP.

Participaram dos debates os professores Olgária Matos, da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Luiz Antonio Constant Rodrigues da Cunha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Gerhard Malnic (USP), Naomar Monteiro de Almeida Filho, reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Hélio Nogueira da Cruz (USP) e Marco Aurélio Nogueira (Unesp). Abriram a sessão o reitor da Unesp, Herman Jacobus Cornelis Voorwald, e o secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo, Carlos Vogt.

Uma das tendências mais lembradas no encontro foi a crescente interdisciplinaridade. Almeida Filho falou sobre a experiência da Universidade de Bolonha, na Itália, na qual os graduandos têm uma formação genérica nos três primeiros anos e escolhem uma carreira específica, fazendo um curso de mais dois anos.

"Na primeira fase, o estudante já obtém o diploma de graduação, e, após os dois anos de especialização, sai com o título de mestrado", disse Durigan. No entanto, segundo ele, há vários obstáculos para que esse modelo seja adotado no Brasil, como, por exemplo, a falta de reconhecimento desse tipo de pós-graduação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Os problemas também são de ordem prática. "Se um estudante de engenharia, por exemplo, quiser cursar disciplinas em ciências sociais, ele terá dificuldades. Por isso, precisamos facilitar o acesso dos alunos a outras áreas", afirmou.

O intercâmbio com instituições de outros países foi outro ponto abordado no evento e tido como fundamental para o desenvolvimento da pesquisa brasileira e para o aumento de sua visibilidade no mundo. Um importante obstáculo nesse caso é o idioma.

"Enviamos muitos alunos para intercâmbios em Portugal e na Espanha, por exemplo, mas isso não ocorre com a mesma intensidade com a Alemanha, China e Coreia do Sul", disse Durigan, destacando que há muitos pesquisadores de outros países que desejam trabalhar com brasileiros.

Para contornar o problema, a Unesp está diversificando os cursos de línguas que são disponibilizados aos alunos, como o curso de mandarim, ensinado em cinco unidades da universidade.

As universidades paulistas também investem no aprofundamento de intercâmbios com instituições para a dupla titulação, em que o aluno faz parte de seu curso no Brasil e parte no exterior e, na conclusão, obtém um diploma reconhecido pelos dois países.

Mais tempo para pesquisa

A universidade da próxima década também terá forte infraestrutura de tecnologias da informação e da comunicação (TIC), segundo os presentes no debate, uma vez que boa parte de sua função educacional deverá ser cumprida a distância.

O ensino a distância é capaz de atender mais pessoas e apresentar qualidade igual ou até superior à modalidade presencial, de acordo com o vice-reitor da Unesp. As TIC também serão uma ferramenta importante nas aulas presenciais. Os docentes deverão manter sites a fim de fornecer os conteúdos que serão abordados em sala de aula.

"Estudos mostram que o aproveitamento do estudante está muito relacionado à disponibilização de material antes da aula, para que ele possa se preparar para o encontro com o professor", disse Durigan.

Outra previsão é que as novas tecnologias deverão proporcionar mais tempo para o docente se dedicar aos trabalhos de pesquisa e de extensão. Já os serviços de extensão das universidades estarão cada vez mais relacionados com projetos de inovação.

A informática será ferramenta fundamental também na gestão das universidades. "Por estar espalhada por todo o Estado de São Paulo, a Unesp, por exemplo, tem uma logística complexa. Temos que contornar essa questão com a ampliação das ferramentas de comunicação e informação", disse Durigan.

A criação de planos de desenvolvimento institucionais foi apontada como alternativa para o problema da falta de continuidade de projetos nas universidades.

Durigan explica que a existência do Plano de Desenvolvimento Institucional da Unesp impede gestões personalistas em que programas iniciados em outras gestões são abandonados ou descontinuados por novas administrações.

"Pretendemos agora organizar outros debates e visitar as unidades da Unesp para que cada uma desenvolva o seu plano", disse Durigan.