9 de outubro de 2005

Fragmentos 01 . DOC

Amanheceu. O sol acordou Eucanatéio. Eram 11 manhã de um domingo de verão. O sol ardia e o sorriso, depois de abrir os olhos, foi seu primeiro gesto consciente. Mas o sorriso durou pouco. Ao levantar a cabeça e olhar ao seu redor, percebeu que suas últimas lembranças faziam parte de um sonho. A realidade era cinza e cruel.

Os anos deixaram Eucanatéio uma pessoa amarga. Muito amarga. Até seus amigos imaginários o abandoram. Sozinho na vida, perdido no mundo, domindo em uma espulunca que pagava com a pensão que recebia no INSS. Invalidez. Eucanatéio perdeu parte de uma mão guilhotinada em uma gráfica clandestina. Clandestina pois, com a digitalização do mundo, o governo proibiu o funcionamento de todas as gráficas. Tudo isso para tentar diminuir o desmatamento. Balela.

Eucanétio poderia ter sido preso por trabalhar na gráfica. Mas no pronto socorro, quando era atendido por um residente de plantão, colaborou com a polícia, recebeu como prêmio um cartão do Previdência Social, senha padrão. Patrão preso, gráfica fechada, informação controlada.

Não, não era um regime totalitário, e sim, planetário, que buscava o equilíbrio entre o homem e o meio em que vive. Acabou o feijão enlatado. Eucanatéio, sem seu café da manhã, sai de casa para caminhar. O céu está azul e o sol escaldante...

[continua]

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